O
orgulho faz com que olhemos as pessoas, de cima para baixo. A inveja nos faz
olhar as pessoas, de baixo para cima. Olhamos aquelas pessoas, que são o que
gostaríamos de ser, que tem o que gostaríamos de ter, que conquistaram o que
gostaríamos de conquistar, que tem a aparência que gostaríamos de aparentar,
que aos nossos olhos são melhores do que nós, são mais bem sucedidas do que
nós, que apontam para nós uma falta e, então, desejamos não apenas ter o que
essas pessoas tem, ser o que essas pessoas são, mas desejamos mais do que isso!
Nós desejamos que elas não tenham o que tem e não sejam o que são. Porque se
nós apenas olhássemos as pessoas, que consideramos acima de nós e desejássemos
chegar lá, essas pessoas poderiam ser para nós fonte legítima de inspiração, e
poderiam suscitar em nós, uma ambição porque a ambição é legítima! Desejar ser
mais, desejar ter mais, desejar mais é legítimo! E assim diferencio a ambição
da ganância: a ambição é desejar mais, a ganância é desejar mais exclusivamente
para si mesmo. Por exemplo: eu gostaria de ser mais parecido com Jesus Cristo.
Quem é que criticaria essa ambição? Eu quero ser mais generoso. Eu quero saber
mais. Eu quero ter mais discernimento. Eu quero ter mais conhecimento. Eu quero
ter mais experiências na vida. Eu quero ter mais prosperidade. É legítimo!
A
inveja se instala quando eu vejo o outro e me pergunto: Se ele tem por que é
que eu não posso ter? Se ele conquistou por que é que eu não posso conquistar?
Por que ele e não eu? E, então, eu me esforço, mas chego a conclusão de que
nunca serei o que ele é. Eu nunca terei o que ele tem. Conviver com essa
diferença me oprime. Então, tenho que dar um jeito com essa diferença. E já que
não consigo acabar com a diferença chegando lá, o jeito é acabar com a
diferença trazendo esse alguém para cá.
A
inveja é o pecado da proximidade. A inveja é o pecado entre os pares ou mais
presente entre os pares. Mães invejam mães. Olham para o filho da outra e olham
para o seu filho, e comparam. Profissionais invejam profissionais. Artistas
invejam artistas. Porque a inveja nos pega não nos nossos pontos fracos, ela
nos pega nos nossos pontos fortes! Eu não invejo um nadador campeão olímpico,
mas eu morro de inveja de um bom cantor e de um bom instrumentista.
A
Bíblia Sagrada relata várias histórias de inveja: Caim e Abel, os irmãos de
José, Saul e Davi, etc. A inveja é um pecado porque é um ato amoral de acordo
com o padrão, pois o padrão cristão é o amor. O amor é a nossa virtude, se é
que podemos chamar o amor de uma virtude, que nos assemelha a Deus porque Deus
é amor. Desejar o mal do outro é um ato de desamor. Desejar o fracasso do outro
é um ato de desamor. Desejar a desgraça do outro é um ato de desamor e,
portanto, a inveja nos desassemelha de Deus. Afasta-nos do coração de Deus e
nos afasta do outro que é invejado por nós.
Eu
penso que a inveja nos faz viver sempre o lado errado da vida. Faz a gente
ficar sofrendo uma falta ao invés de alegrarmo-nos e termos prazer naquilo que
já possuímos. Eu tenho algo, e ao invés de desfrutar o que tenho, fico me
consumindo, admirando no outro o que ele tem que eu não tenho. Eu vivo na falta
e não no desfrutar e no prazer. Eu vivo do lado errado porque eu fico desejando
ser a outra pessoa em detrimento de ser eu mesmo! Ao invés de eu despender
esforços para crescer, eu despendo os meus esforços na direção de destruir o
outro e nivelo todo mundo por baixo, ao invés de me inspirar e ser fonte de
inspiração para o crescimento de outros. Eu vivo o lado errado da vida.
A
inveja nos impede de apreciar o que é digno de ser apreciado, quando isso que é
digno de ser apreciado não é nosso, não está em nós, não foi feito por nós.
Conhece o ditado? : “Quem desdenha quer comprar” Então, nós colocamos logo um
defeito. Daqui a pouco eu perco a capacidade de enxergar o belo, o bom, o digno,
eu só enxergo o lado ruim das coisas e das pessoas porque eu sou incapaz de
admirar, eu vou me tornando aos poucos num especialista em depreciar.
A
inveja rouba o mistério da vida. As pessoas são o que são e tem o que tem. Isso
é um mistério! Elas têm ou deixam de ter e eu sei lá o porquê! E nós achamos
que as pessoas são o que são e tem o que tem, e que existe uma explicação e
que, se eu descobrir essa explicação eu vou ser igual ao outro e terei o que
ele tem. É uma grande besteira pegar um milionário e ensinar a você como ficar
rico. Não é possível isso! O sujeito que é milionário é um bem aventurado! E se
ele acha que ele soube ficar milionário, e você não soube, ele é um estúpido!
Se você perguntar a um milionário como ele ficou rico, ele provavelmente vai
dizer: “Ah, você não me conheceu quando eu não era rico. Dei duro, trabalhei de
sol a sol, batalhei muito”. Como se essa fosse a explicação para a riqueza. Como
se o Brasil não tivesse milhões de pessoas que dão duro de sol a sol, batalham
muito! Não são burras! São inteligentes, são dedicadas, são honestas, são
íntegras (talvez por isso não ficaram ricas), batalharam e nunca ficaram ricas.
Porque ser rico ou não ser rico, não é uma questão de ter descoberto o segredo,
é um mistério. O rico sábio é aquele que diz o seguinte: “no mistério da vida,
eu fui contemplado com recursos, e serei cobrado por Deus pelos recursos que
estão em minhas mãos”.
A
inveja é um caminho de autodestruição. Porque eu prefiro sofrer a ver você
feliz. Nunca ouviu uma pessoa dizendo? : “Eu vou infernizar a sua vida”.
Prefere viver no inferno, arrastar o outro para o inferno a deixar o outro ser
feliz. Isso me faz lembrar a história do Ganancioso e do Invejoso que encontraram
o Rei. E o Rei disse: “Faça-me um pedido, o que um me pedir eu darei em dobro
ao outro”. O Invejoso falou: “Ah, eu não vou pedir primeiro porque se eu pedir
primeiro, o Ganancioso vai ter em dobro o que eu pedi e eu vou ficar com inveja
dele”. O Ganancioso falou: “Ah, eu não vou pedir primeiro porque se eu pedir
primeiro, o Invejoso vai ter em dobro o que eu pedi e eu vou querer o dele
também”. E ficou um “jogo de empurra”, quem pede primeiro ao Rei. Até que o
Invejoso falou: “Eu quero que o senhor me fure um olho”. Tem gente que é assim.
Tem gente que prefere ter um olho furado desde que o outro tenha os dois olhos
furados. O invejoso quer que todo mundo tenha menos porque ele não admite
conviver com quem tem mais.
A
inveja nos leva a confundir o que é sucesso. Especialmente em nossa sociedade
que estampa e joga na nossa cara um ideal de sucesso, nessa indústria que
fomenta o consumo. O sucesso é medido pela média da sociedade que consome. O
que nós não nos damos conta, é que essa sociedade de consumo que estampa em
suas revistas e suas propagandas imagens de sucesso, é uma sociedade patética,
que definiu o sucesso de uma maneira falsa, ilusória. E a gente se encanta com
esse aparente sucesso e já não consegue mais saber o que é de fato ser um
sucesso.
A
inveja nos coloca sob a sombra negativa da vida. Friedrich Nietzsche disse: “Quando
alguém não consegue realizar o que deseja, exclama com raiva: “Que o mundo todo
morra”, essa emoção repulsiva é o apogeu da inveja”. Cuja implicação é essa: “Se eu não posso ter
algo, ninguém pode ter”. Exemplo: Se eu não vou ao piquenique sábado, então que
chova.
A
inveja dá origem a outros pecados como o ódio. Eu passo a odiar o outro.
Desejar que ele não exista. Ao homicídio: não necessariamente tirar a vida de
outrem, mas assassinar através das palavras. Eu mato caluniando, difamando,
desmerecendo, diminuindo, depreciando, eu mato com a boca. O invejoso acaba
acreditando que os fins justificam os meios. E ele quer tanto chegar lá, que
ele se mete em muita encrenca pra chegar lá. E ele acaba trilhando, inclusive,
o caminho ilícito pra chegar lá. E não só um caminho, mas vários!
Finalizando,
a inveja tem um filho. É aquela alegria sutil na desgraça alheia. Exemplo:
Fulano bateu com o carro. “Ah, que pena! Novinho! Comprou essa semana!”. (risos
internamente)
E
qual é a resposta cristã para a inveja? O antídoto para a inveja é a gratidão. “Dêem
graças em todas as circunstâncias, pois esta é a vontade de Deus para vocês em
Cristo Jesus”. (1 Tessalonicenses 5:18)
Eu
creio que o oposto de um coração invejoso é um coração agradecido. Porque a
gratidão celebra o mistério, a dádiva. A gratidão está acima desse jogo doentio
de mérito e demérito, de justiça retributiva. A gratidão é própria do
constrangido, que quando diz: “Não precisava”, está dizendo a verdade. Porque
tem aquele “Não precisava”, que é falso! Quando a pessoa ganha um presente e
diz: “Ah, não precisava”, mas no fundo ela pensou: “só isso?”. Se eu compreendo
que mereci, então não é dádiva! É transação. Eu sou grato quando eu tenho uma
profunda consciência de que não mereço. Eu sou grato quando eu tenho uma
profunda consciência de que sou agraciado. E que aquilo que tenho, não tem uma
explicação se não a bondade de quem me deu.
A
única explicação para que eu tenho o que tenho, é que Deus é bom e quis me dar.
A única explicação para que eu tenho o que tenho, é que você foi generoso para
comigo e a sua generosidade explica o que você fez por mim. E a única coisa que
posso fazer é dizer: “Obrigado, sou grato”. A gratidão faz com que prestemos
atenção na fonte da dádiva e toda boa dádiva vêm de Deus. (Tiago 1:17)
Por
isso Jesus diz que, quem quer dar algo para o outro, que dê no anonimato, que não
saiba a mão esquerda o que faz a direita. (Mateus 6:3) Porque quando aquele,
que é abençoado e não sabe a quem agradecer, agradece a Deus. Jesus ensina a
forma correta de doar e de agradecer.
E
sabe por que não temos gratidão no coração? Porque não sabemos o que temos. A
gente não presta atenção no que tem porque estamos ocupados com o que não
temos. Ao invés de termos um coração grato pelo que temos, nós temos um coração
invejoso pelo o que não temos.
Penso
que o coração grato é o oposto do coração invejoso, e isso é libertador! Quando
eu celebro quem eu sou, o que tenho, o que posso, o que faço, o que sei, sou
grato por tudo! E esta é a vontade de Deus para nós em Cristo Jesus, a gratidão.
(esse texto foi pinçado de um sermão feito pelo teólogo Ed René Kivitz)